Yasmin Maciane da Silva - CONVERSAS INCENDIÁRIAS COM ACADÊMICAS BRANCAS SOBRE ANTIRRACISMO CORDIAL EM SUAS PRÁTICAS, PACTOS E DISCURSOS.

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                    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL
INSTITUTO DE PSICOLOGIA - IP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA - PPGP
SUBJETIVIDADES, POLÍTICAS E PROCESSOS PSICOSSOCIAIS

YASMIN MACIANE DA SILVA

CONVERSAS INCENDIÁRIAS COM ACADÊMICAS BRANCAS SOBRE
ANTIRRACISMO CORDIAL EM SUAS PRÁTICAS, PACTOS E DISCURSOS

Maceió-AL
2025

YASMIN MACIANE DA SILVA

CONVERSAS INCENDIÁRIAS COM ACADÊMICAS BRANCAS SOBRE
ANTIRRACISMO CORDIAL EM SUAS PRÁTICAS, PACTOS E DISCURSOS

Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de Mestra em Psicologia, junto ao
Programa de Pós-graduação em Psicologia do Instituto
de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas,
Campus A. C. Simões.
Orientadora: Prof.ª. Dr. ª Simone Maria Hüning.

Maceió-AL
2025

AGRADECIMENTOS
Quando a escrita ficou turva e complicada demais, nos ajustes finais das coisas
inacabadas, quando a escrita me pareceu solitária, lembrei-me da importância de viver
acompanhada. Dos respiros que dei no colo de minhas irmãs, das risadas exageradas ao
contemplar a presença dos meus.
forma de uma dissertação, voltei aos agradecimentos para celebrar a existência de todas e todos
que me acompanharam nos últimos dois anos.
Olhando para dentro de mim e para o texto que entrego, encontro fragmentos de todas/os
vocês. Cada fragmento é uma peça que se encaixe formando um sonho coletivo, uma ideia que
se materializa aqui.
Eu agradeço por viver acompanhada.
Agradeço à minha espiritualidade...
Agradeço e- agradecerei para sempre - aos meus, aos que me sustentaram até aqui.
Agradeço aquela menina petulante e assustada que se transformou em uma mulher
falante e tagarela.
Agradeço por não ter me sentido sozinha, pois na companhia de mainha, das minhas
irmãs e das velas acendidas, sabia que estava acolhida.
Os agradecimentos são uma espécie de celebração às companhias e aos caminhos
trilhados até aqui. E o aqui é só o meio do caminho que começará de novo e de novo. Um
percurso que se fez devagar, mesmo eu tendo sede e pressa para acabar. Preciso agradecer a
escuta que se fez entidade nessa jornada, que devagarinho me faz dar conta de realizar.
À mainha devo o meu falar... Agradeço pela companhia na escrita, pelos ensinamentos
de vida. Agradeço a ti, Dona Maria Petrucia da Conceição, minha velhinha, pela sua existência,
saúde e intelectualidade, a senhora que me acompanhou nesses dois longos anos, mesmo sem
a pelos chás para enxaquecas, pelos banhos de
ervas para tirar o mau-olhado e preces pedindo o reequilíbrio das minhas energias. Obrigada,
mainha
uma experiência gostosa de viver.
Agradeço ao João, meu companheiro, por sempre acreditar e potencializar em minhas
habilidades, e alegrar-se por minhas conquistas. Agradeço por todos esses anos, por me buscar

às 5 horas da manhã e garantir que estudaria. Por me lembrar dos prazos e me ajudar a organizar
a rotina. Agradeço por me ouvir falar dos textos que li, das ideias que quis escrever, mesmo
quando não as entendia. Obrigada por elevar minha autoestima intelectual, por passar o café
altas horas da noite e por alegrar-me todos os dias.
Agradeço a Vilma, minha mãe biológica, pelo apoio nesse processo. Pelas risadas
frouxas, pelas conversas jogadas fora. Te agradeço por fazer o possível para estar presente
mesmo quando tudo parece não funcionar.
Agradeço às minhas irmãs, Beatriz e Macileide e especialmente à minha pacotinha
Aylla Caroline, por despertarem minha melhor versão todos os dias. Agradeço por estarem
presentes nesse momento e em todos os outros da minha vida. Agradeço por não precisarem
que receba um

Ao meu tio, José Floriano do Nascimento

e ao meu cunhado Cregivaldo, por me cuidarem como filha, me dando proteção e segurança
para seguir caminhando. Vocês, minha família, são minha grande referência.
As minhas amigas pela paciência e compreensão de minhas ausências, por entenderem
todas as vezes que precisei recusar um convite ou dar uma desculpa para ficar em casa
trabalhando na escrita dessa pesquisa que vocês recebem hoje: Fabiana, Allinny, Thais,
Hortência, Sanny, Jardi, Débora, Laura, Aline, Marcos e Rita.
Às minhas companheiras e meus companheiros de trabalho, aquelas/es que acreditaram
e potencializaram minha intelectualidade: Josberto, Neto, Denise, Luan, Thaísa, Eloísa Jane,
Ainara, Gil, Gabi Pezzo, Amanda Barbosa, Claúdia Melo e Maria Izaura.
Aos meus companheiros, amigas e amigos da graduação com quem compartilhei minhas
inseguranças, minhas ideias e desejos: Dayane, Rayane, Thamiles, Breno, Juliana, Sayonara,
Nayara, Cristóvão, André, Duda e Dani.
Agradeço à Gestão Carolina Maria de Jesus do Centro Acadêmico de Psicologia, por
me fazerem maior do que eu poderia ser, por manterem vivos a política do dengo, por
acreditarem no amanhã melhor e mais justo para todos. Saibam que o CAPsi será sempre o meu
melhor lugar na universidade. Eu sou imensamente grata pela existência de vocês: Gabriel,
Adson, Yas, Isa, Pietra, Luan, Bia Rocha, Albi, Marilia, Milena, Thamires Cruz, Bia Neri,
Ismael, Flávia, Aline, Larissa e a todos que nos antecederam.
Ao Coletivo Pretes Psi agradeço pelo cuidado ancestral. Pela força e coragem na luta,
por ser morada de amor e dengo em meio ao caos. Agradeço por potencializar minha escrita,
por fazerem de ideias corpos-presentes, por não desistirem de nós.

Ao Coletivo Mangueiras - Jovens Feministas por Direitos Sexuais e Direitos
Reprodutivos -, agradeço pela torcida, incentivo e comemorações a cada nova conquista. Muito
obrigada, pela amorosidade, as aprendizagens e todos os momentos de esperança.
À professora Erika Oliveira e a Laura Bleinroth, por serem as primeiras moradas de
alianças antirracistas na academia, se eu não as tivesse encontrado durante a graduação, não
teria me tornado uma pesquisadora monstruosa. A vocês, todo meu carinho e admiração.
Larissa, Lalo, Erick, Samu, Milena e Raissa, como posso agradecê-las/os? Dizer que
vocês tornam tudo mais fácil, mais leve e mais divertido parece pouco. Eu me sinto
infinitamente sortuda por tê-los nessa jornada, chegamos até aqui juntos! Chegamos porque
estivemos juntos! Muito, muito, muito obrigada por re-inventarem a universidade comigo.
A minha orientadora Simone Maria Hüning, aquela cujo sobrenome não consigo
pronunciar, mas que me toca pelo olhar. Muito obrigada por aceitar essa empreitada, pelas
trocas afetuosas, pelas angústias lançadas, por ser vulnerável a minha pesquisa. Agradeço por
cada apontamento, por cada questão levantada e por acreditar que conseguiríamos, juntas,
apesar de encurraladas.
Agradeço à banca qualificação pelas considerações, cuidado e zelo com o trabalho
apresentado. Professor Marcos, ou melhor, Marquinhos, este trabalho só foi possível por sua
orientação no TCC, pela graça e alegria que é ser orientada por você. Professora Anita
Bernardes, que sorte encontrar sua doçura voraz, obrigada por apontar a qualidade de minha
fúria e potencializar meus escritos. A Professora Aline Silva, aquela que tenho como referência
de intelectualidade ancestral, obrigada por abrir caminhos. Muito obrigada, minha banca!
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa
de pesquisa durante os dois anos de mestrado. Sem bolsa, dificilmente teria chegado até aqui.
Às minhas ancestrais. Agradeço aos começos, meios e começos de novo. Junto aos
meus, para sempre aqui, dentro de mim.

Eu tô virada na desgraça com essa gente
que acha que eu sou fonte e que nunca vou secar,
com essa gente que se acha inteligente
que levante a voz comigo, que espera o meu calar.
Já tô nas tampas com esse povo sem noção
que adora a minha cultura, mas se acha meu patrão.
Um povo falso que defende o feminismo,
elogia o veganismo, faz campanha antirracista
e quer sempre ter razão.
Já tô nas tampas de ouvir tanta besteira dessa gente ignorante,
de trato deselegante que se acha o Redentor.
Um povo chato que acha que fazer samba,
põe uma conta no pescoço, faz dele um salvador.
Já tô virada na desgraça com essa gente
é melhor nem chegar perto,
eu tô armada de facão.
Das minhas tetas não te dou mais nem uma gota,
vai sujar outra cultura, tenta lá, lá no Japão.

Virada na desgraça, Ayrá

RESUMO
Esta dissertação é movida pela inconformidade, pela fúria e pelo desejo de desmantelar a
branquitude acadêmica. Movimenta-se embalada pelo sonho de alargar a ciência e fazer dela
morada de corpos negros, indígenas e quilombolas. Esta pesquisa tem por objetivo estabelecer
uma conversa incendiária com acadêmicas brancas sobre o antirracismo cordial, analisando
como acadêmicas brancas operam o antirracismo cordial em suas práticas institucionais, os
mecanismos que dão sustentação a seus discursos e rastrear quais as práticas e estratégias
acionadas pela branquitude para sustentá-l

Assentada nos feminismos negros e nos saberes

anticoloniais, centramos a atenção as experiências dos corpos políticos na academia, buscando
conhecer suas histórias, percursos, práticas e as materialidades de suas vivências em relação à
branquitude. Como guias metodológicas utilizo-me das redes de sussurros e as narrativas
autobiográficas, analisadas em entrelaçamentos, com a transmetodologia e o chamado à
deseducação. As histórias acessadas nas redes de sussurros são conectadas às narrativas
autobiográficas, anunciando outra perspectiva de mundo - incluindo as políticas do
conhecimento, os modos de produzir, de ensinar e aprender não cordiais. Constata-se, ao fim
deste trabalho, que o antirracismo cordial de brancas acadêmicas, produz formas de controle e
colonização de corpos negros, seja por meio da afetividade ou da comercialização da inclusão.
Como resultado de conversa cara-a-cara com a branquitude acadêmica, entrego a vocês, escritos
que revisitam a potencialidade do fazer coletivo, destacando o poder da oralidade através das
redes de sussurros e das manualidades de quem habita a universidade com o corpo inteiro. Um
trabalho chamuscado, incendiário e curativo.
Palavras-chave: Antirracismo cordial; Branquitude; Universidade; Anticolonial; Feminismos.

ABSTRACT
This dissertation is driven by nonconformity, fury and the desire to dismantle academic
whiteness. It is driven by the dream of broadening science and making it home to black,
indigenous and quilombola bodies. This research aims to establish an incendiary conversation
with white academics about cordial anti-racism, analyzing how white academics conduces
cordial anti-racism in their institutional practices, the mechanisms that support their discourses
and trace the practices and strategies used by the whiteness to sustain it. Based on black
feminisms and anti-colonial knowledge, we focus our attention on the experiences of political
bodies in academia, seeking to learn about their histories, journeys, practices and the
materialities of their experiences in relation to whiteness. As methodological guides, I use
whisper networks and autobiographical narratives, analyzed in interweaving with
transmethodology and the call for diseducation. The stories accessed in the whisper networks
are connected to the autobiographical narratives, announcing another perspective on the world,
including the politics of knowledge, ways of producing, teaching and learning in a non-cordial
way. At the end of this work, it can be seen that the cordial anti-racism of white academics
produces forms of control and colonization of black bodies, whether through affection or the
commercialization of inclusion. As a result of a face-to-face conversation with academic
whiteness, I give you writings that revisit the potential of collective doing, highlighting the
power of orality through networks of whispers and the manualities of those who inhabit the
university with their whole bodies. A scorched, incendiary and healing work.

Keywords: Cordial Anti-racism; Whiteness; University; Anticolonial; Feminisms.

LISTA DE IMAGENS
Figura 1 - Cartaz colocado na sala do Centro Acadêmico de Psicologia Carolina Maria de Jesus
(CAPSI-UFAL).........................................................................................................................18
Figura 2 - Mural de fotografias exposto na sala do CAPSI-UFAL com referências negras e
indígenas no campo da arte, militância e academia para encantar a ciência e a
Figura 3 - Produção de cartaz para ato contra o assédio moral e sexual na
51
Figura 4 - Cartazes da mobilização organizada pelo CAPsi-CMJ, contra fraudes em cotas
75
Figura

5

-

Imagem

de

parede

branca

com

marcas

de

fuligem

após

um
9

Figura 6 - Cartaz produzido por estudantes de Psicologia em mobilização contra o
15
Figura 7 -

16

Figura 8 - Imagem de incêndios em canaviais em Sertãozinho, Dumont e Pitangueiras para
118

SUMÁRIO
1.
2.

2

3.

2

4. NOTAS SOBRE A SUPREMACIA BRANCA DO FEMINISMO SEM
7
54
1
9
5.

6
80
85
9
94
8

6.

104
7
11
17

7.

24

8.

29